Tudo começou com Cristiana, que criou a Playground “por necessidade”. A necessidade de ter uma presença fixa em Portugal, não obstante afirmar-se como uma realizadora internacional. “Fui convidada há uns anos pelo Nuno Jerónimo [diretor criativo d’O Escritório]. Conhecemo-nos no Festival de Cannes e ele perguntou por que eu não ia filmar a Portugal, ao que respondi que nunca tinha recebido nenhum convite”, conta. A promessa de um novo contacto ficou feita, e assim foi. Nuno convidou-a para realizar um projeto e, partir daí, Cristiana começou a fazer trabalhos em Portugal. “Sempre tive o interesse de ter cá uma representação mais fixa, mas não estava interessada em juntar-me a outras produtoras ou ser mais uma pessoa no meio de um grupo de realizadores”. Decidiu pois, montar a própria empresa, contando, para isso, com o apoio de Joana Lisboa, até há pouco tempo executive producer da Playground. Convidou ainda Kenton Tatcher, com quem já tinha uma relação não só de amizade mas também laboral.
Em 2013, nascia a Playground, com a ambição de servir o mercado português, apesar do cunho internacional da fundadora. Não obstante encontrar uma economia fragilizada, não sentiu grandes dificuldades em afirmar-se: “O meu grande mercado era internacional e, por isso, para mim foi uma situação de privilégio, porque vim fazer trabalhos esporádicos e em que podia escolher o nível de qualidade”. Partindo da ideia de que as marcas internacionais já conheciam o trabalho de Cristiana Miranda e de Kenton Tatcher, a Playground assume a missão de se estabelecer no mercado português e conquistar marcas nacionais. “Já que as marcas estrangeiras gostam de trabalhar connosco, por que não também trabalhar para os portugueses? Faz todo o sentido…”. Por isso, a produtora não teve, inicialmente, necessidade de se promover. Mas, passados três anos, a estratégia é afirmar-se como uma produtora de referência no mercado. “Para isso acontecer, temos que mostrar a cara, dizer que estamos prontos e interessados em trabalhar com mais marcas e mais agências”. No entanto, a fasquia de qualidade mantém-se pois, tal nas palavras de Rui Vieira, a Playground não é “uma fábrica de produção, mas sim uma produtora de filmes”. “Quando o Rui se tornou parte da Playground, o potencial que trazia, por ter sido diretor criativo e ter trabalhado em grandes agências, foi aproveitado quando decidimos impulsionar a produtora e dar um salto em frente”, diz Cristiana.
Este salto em frente acontece em 2015, fruto da ambição de afirmação no mercado nacional. Em consequência, a Playground adotou uma nova imagem, desenvolvida pela agência This is Pacifica. “A marca agora reflete o que queremos ser no mercado. Passámos do low profile para dizer ‘estamos aqui'”, explica Rui.
Na Playground trabalha-se como um coletivo: “Quando estamos a trabalhar falamos muito uns com os outros e, no fim, o que oferecemos não é só um filme de 30 segundos, ou uma fotografia, tentamos sempre acrescentar e trazer algo mais”. Tudo começa pela criatividade, analisando o que é ou não possível fazer a esse nível, e só depois se segue para a produção. Diz Rui que o essencial é “não fazer como as produtoras mais clássicas, que partem do budget, e depois veem o que é possível fazer”: “Na Playground, trabalhamos muito assim – começamos no talento e depois partimos daí para produzir, e não o contrário”. Essa coletividade é visível em toda a produtora, sendo que em qualquer trabalho há sempre uma discussão criativa, mesmo com pessoas que nunca fizeram filmes mas que, no brainstorming, acrescentam inputs.
Tal como explica Cristiana, embora haja muitas restrições no mercado, o ponto criativo é sempre o mais importante: “Queremos ser competitivos, e é óbvio que queremos ganhar trabalhos, mas ao mesmo tempo sem afetar o que achamos que vai dar um melhor resultado”. Por isso, a produtora não entra em políticas de dumping e afirma que “nunca” baixará um orçamento a um nível que gere inconsistência para o resto da indústria, de forma a ganhar um projeto. “Não gostamos dessa mentalidade do ‘vamos ganhar este projeto agora e o resto que se lixe’, não podemos trabalhar assim”, afirma Cristiana.
A política assenta assim numa solução “full service production” e, quando há essa restrição de orçamento a opção passa por trabalhar no “approach criativo”. “Apesar de querermos crescer, sabemos que temos um limite, não vamos ter uma grande casa de produção com muitos diretores, somos uma equipa pequena, como uma família, e umas das coisas que aprendemos é que é fácil crescer, mas, especialmente em tempos como os que vivemos, de recessão, a última coisa é que temos de fazer é começar a aceitar trabalho para pagar uma equipa grande”, reforça Kenton. A solução não é tentar baixar o preço a todas as pessoas envolvidas, mas sim reinventar o que se pode fazer dentro de uma estrutura.
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