Como na rádio, a vida vive-se ao segundo e, em menos de nada, passou uma semana sobre o Radiodays Europe, o maior evento de rádio na Europa.
Para mim, em cada ano, há o antes e o pós #RDE15: meses antes esquecemos todos os ensinamentos e ideias que retirámos das sessões do ano anterior. Nos dias que se seguem há uma renovada energia vibrante que resulta do dinamismo do sector.
Não foi diferente este ano e, apesar de a questão que fechou o Radiodays ter ser “is radio dead?”, todos sabemos ter-se tratado de uma provocação de Ben Cooper (BBC Radio 1) com o objectivo de estimular a audiência.
Provocações à parte, já várias vezes se anunciou o funeral da rádio, esse meio resiliente que encontra sempre forma de sobreviver, renovando-se e reinventando-se. Embora para quem escuta rádio esta pareça cada vez mais igual a si mesma, sem rasgos de criatividade ou apontamentos que a tornem indispensável, em boa verdade, continuamos todos a gostar de ouvir rádio. E, essa, é a grande oportunidade para a rádio contemporânea: se recuperar as velhas formas de fazer rádio integrando as ferramentas digitais que todos os dias vão evoluindo irá tornar-se mais relevante para cada um de nós.
Hoje, a maior competição da rádio não são as outras estações de rádio – estas e todas as outras alojadas na web ou disponíveis nas múltiplas aplicações que agregam estações emissoras – são sim, todas as outras aplicações que nos roubam a atenção.
O grande desafio é conquistar os que não estão a fazer nada. Que não se ligam à rádio e que pouco ligam a tudo o resto. Simultaneamente, o desafio também é o da distribuição, porque a rádio perdeu controlo do seu sinal, que se expande através da web numa multiplicidade de canais não definidos pela emissora. Estes, apesar de contribuírem para ampliar a escuta da rádio, não lhe permitem controlar a marca, ou saber quem escuta o quê, quando e como o faz.
Por isso, Ben Cooper dizia que a rádio estava morta. Mas também porque, na sua opinião, a primeira batalha contra o smartphone já estava perdida, num contexto em que novos comportamentos se consolidam, orientados em torno da utilização deste dispositivo e da definição das escolhas mediáticas individuais, muitas vezes de forma paralela aos meios de comunicação social instituídos.
A rádio tem um trunfo com o qual o digital não consegue concorrer: a presença humana. Uma das grandes conclusões do #RDE15 é a da recuperação do papel do indivíduo: Elvis Duran, personalidade da rádio norte-americana foi claro: na rádio temos de saber o que se passa no nosso quintal, o que equivale a dizer que a lógica do think global, act local também tem de ser aplicada à rádio, e que o melhor que pode acontecer na programação resulta da interacção entre as pessoas. Da mesma forma, Nick Goodman, consultor britânico, concluiu uma das sessões relembrando que a rádio tem uma capacidade única para ligar pessoas e música, defendendo o regresso de locutores apaixonados e conhecedores do universo musical da estação.
Porque os ouvidos (ainda) são melhores do que algoritmos…