Não sei se sou eu que estou mais atenta ou se há cada vez mais detractores na rede que publicam artigos, opiniões e ideias sobre a nossa dependência em relação à tecnologia e a forma como certos dispositivos nos invadiram, tornando-se ubíquos. Parece-me bem que nos deixámos seduzir sem pensar nas consequências desta paixão. Na verdade, passamos todos por uma fase de descoberta em que tudo nos parece maravilhoso, em que a tecnologia, em si, apenas apresenta vantagens. Alguns, porque não a entendem e não querem fazer um esforço, afastam-se. Outros mergulham de cabeça numa nova relação, substituindo velhos hábitos por outros, que lhes parecem melhores. Depois, há a fase da tomada de consciência, em que percebemos que, como as pessoas, também a tecnologia tem defeitos. É nesta altura que relativizamos a sua importância e adoptamos uma postura utilitarista, em que a tecnologia nos serve ou, em contrapartida, nos afeiçoamos de tal maneira que deixamos de saber viver sem ela. No segundo caso, usamos e abusamos sem pensarmos nas consequências. E que consequências…
A Google, a Amazon, a Apple, o Facebook e restantes sites de redes sociais não são a raiz de todos os males. O mal é nosso que cedemos e lhes damos mais relevância do que aquela que, efectivamente, têm.
A Columbia Journalism Review diz que o Facebook está a engolir o mundo e tem razão, especialmente porque o tema, sendo do domínio público, não tem discussão na esfera pública. Ou, pelo menos, uma discussão efectivamente consequente. A questão já não se coloca ao nível daquilo que é possível fazer com a tecnologia, o que fazemos com a tecnologia ou o que pode a tecnologia fazer por nós. O tema é mais amplo, com implicações directas nos nossos modos de vida, da sociedade e da cultura, do consumo, da economia e negócios, da política e da cidadania. Do artigo destaco duas ideias: a de que o smartphone se transformou no nosso portal para o mundo e a perda de controle da distribuição dos conteúdos jornalísticos por parte das empresas de comunicação social, tornando demasiado poderosas as empresas de sites de redes sociais. Porque determinam o que vemos e como vemos, limitando acessos, expondo o que é tendência em detrimento do que possa ser efectivamente relevante. Se é tendência nos sites de redes sociais então é importante, poderão argumentar. A experiência diz-nos que não é exactamente assim. Como também nos diz que estas empresas existem com propósitos económicos e que estes condicionam a circulação da informação, destacando a que tem características virais ou aquela que é paga. Também não são operadores de serviço público de media. Não. Mas pela sua dimensão e expansão deveriam ser obrigadas a uma certa responsabilidade social que garantisse o pluralismo e a diversidade em vez de nos darem, diariamente, mais do mesmo.
Outra ideia que me agradou foi a da opacidade e obscuridade dos algoritmos que dominam estas plataformas, pela forma como seduziram as diferentes organizações mediáticas, criando novas que são, em tudo, semelhantes aos velhos media assumindo-se, contudo, como projectos adequados à redes que se alimentam do que circula na rede para distribuir conteúdo proveniente de marcas comerciais, sem que disso nos consigamos dar conta.
Não apelo à destruição destes gigantes da Internet mas antes a uma tomada de consciência que alguns, mais novos, menos experientes e contudo, muito experientes nestas coisas da web – porque nasceram com ela – já estão a fazer. Abandonam o Facebook ou rejeitam a ideia de criar um perfil, usam sistemas de mensagens criando grupos privados para comunicar entre amigos, e não estão nos sites de redes sociais como nós pensamos que estão. Muitos acham toda esta social media vibe pouco interessante. Outros preocupam-se com a sua privacidade. Há ainda quem critique o hábito que se instituiu de fotografar, publicar e comentar cada instante da vida. Que por vezes pode ser muito desinteressante. Na verdade, chegaram depois mas chegaram mais depressa do que a maior parte de nós: perceberam como os sites de redes sociais funcionam, servem-se e têm uma vida fora deles que desconhecemos.
Porque nós, os que não pertencemos à geração millennial estamos demasiado preocupados em perceber como tudo isto funciona. E esquecemo-nos de que há uma vida para além disto tudo.