Mais do que atrair, é preciso fidelizar: tendências para o streaming em 2025

Por: Vitor Dourado, Chief Investment Officer da Havas Media Network Portugal

Mais do que atrair, é preciso fidelizar: tendências para o streaming em 2025

Com o lançamento de cada vez mais plataformas de streaming, a unirem-se às já conhecidas Netflix, Disney+, Amazon Prime Video, Max, Apple TV e outras, o mercado do consumo de entretenimento em vídeo está cada vez mais saturado e, consequentemente, as audiências mais exigentes.

A oferta é muito variada, o público já não se contenta apenas com um catálogo vasto, exige mais condições, mais personalização e inovação constante que justifique não só a atração, mas a sua fidelização a uma só plataforma.

Por isso, o verdadeiro desafio para as plataformas em 2025 será manter os seus utilizadores a médio/longo prazo, o que exigirá que, não só procurem antever as necessidades que o consumidor ainda não sabe que tem, mas também que se voltem para as lacunas ainda não preenchidas na experiência do utilizador.

Um dos maiores desafios enfrentados pelos assinantes das plataformas de streaming, e que tem dado que falar nos últimos tempos, é a limitação de utilizar múltiplos dispositivos com um mesmo perfil. A questão que se coloca é: sabendo que são muitos os consumidores que partilham contas entre si para poderem aceder a mais do que uma plataforma, como podem os providers contornar esta insatisfação? Na impossibilidade – dizem uns – de contentar o público com planos de subscrição mais flexíveis, as plataformas de streaming de vídeo precisam de dar outros motivos para que a sua audiência continue fidelizada.

Tal passa, primeiro que tudo, por reconhecer que, num mercado onde a maioria dos players já possui catálogos bastante abrangentes, as plataformas precisarão de ir além do “mais do mesmo” para se diferenciarem.

Em termos de personalização, isto pode traduzir-se num algoritmo mais avançado que tenha em conta não só o histórico do utilizador, mas também, por exemplo, crie playlists para cada estado de espírito, como já é feito para o streaming de música no Spotify.

Outra aposta essencial é o conteúdo original. Se antes a preocupação passava por oferecer um catálogo que contasse com o maior número de blockbusters possível, agora o diferencial para as plataformas está essencialmente na criação de conteúdos originais, com narrativas inovadoras que transcendam clichês e abordem diferentes culturas, temas e estilos.

As plataformas que se focarem em conteúdo autoral e culturalmente diversificado – como filmes independentes, produções internacionais e histórias que representem vozes locais – terão mais chance de se destacar e cativar públicos mais variados. Estas produções próprias, com qualidade cinematográfica, têm-se tornado a chave para evitar o desgaste e a “fadiga de conteúdo” que leva, muitas vezes, os consumidores a repetirem conteúdos ou a sentirem-se insatisfeitos perante uma infinidade de opções iguais entre si.

Estes novos conteúdos, mais complexos, podem ser também complementados por novas formas de consumo logo à priori. Com o avanço de tecnologias, como a inteligência artificial e realidade aumentada e virtual, o consumidor de 2025 espera muito mais do que o simples “clicar no play”. Plataformas que ofereçam interatividade, como narrativas interativas ou eventos ao vivo, terão um diferencial competitivo.

E estes eventos ao vivo não têm necessariamente de estar relacionados com a indústria cinematográfica, podem ir desde concertos, a competições de desporto, a torneios de gaming, ou mesmo a eleições – como foi o caso das recentes eleições americanas, que puderam ser acompanhadas através do Amazon Prime Vídeo, de forma gratuita.

Outro recurso que também pode estar entre as tendências para 2025 no mercado do streaming de vídeo é a possibilidade de assistir aos filmes e séries em simultâneo com amigos, sincronizando as exibições à distância. Este “social streaming” – onde o espectador pode interagir e partilhar a experiência em tempo real, sem ter de estar no mesmo lugar que os seus amigos – foi, sem dúvida, uma tendência que cresceu no contexto pandémico e não deve ser menosprezada nem esquecida.

Algo que também não podemos desvalorizar, e que tem enorme influência no mercado, é a constante pressão por aumento de preços como um problema recorrente nas plataformas de streaming, levando à insatisfação de uma larga fatia de utilizadores pela frequência dos reajustes. A clareza e a previsibilidade nas políticas de preços serão também um ponto fulcral para a fidelização dos utilizadores. Até 2025, o utilizador espera que os reajustes sejam comunicados com antecedência e justificados de forma transparente.

Neste sentido, tomando como exemplo a disponibilização de uma opção com publicidade pelo Disney+ em Portugal, a discussão sobre modelos de assinatura com anúncios ganha relevância entre as plataformas de streaming. Esta solução, já oferecida noutros mercados por vários players, visa atrair consumidores que procuram um preço mais acessível recorrendo a uma fonte de receita alternativa.

No entanto, o impacto desta estratégia traz também os seus desafios. O primeiro tem a ver com crescer sem perder valor, ou seja, encontrar o equilíbrio entre os novos aderentes e os que poderão apenas transitar de uma modalidade mais cara, sem publicidade, para esta. O segundo, e não menos importante, assenta na experiência do utilizador porque a inclusão de anúncios não pode comprometer a fluidez e o prazer do consumo. Este equilíbrio pode encontrar-se garantindo o mínimo de interrupções possível e servindo publicidade através de segmentações relevantes para cada perfil, tornando-a menos intrusiva – o que é, na verdade, uma preocupação transversal a toda a publicidade atualmente.

Em última instância, num mercado de streaming que se torna cada vez mais competitivo, as plataformas que conseguirão mais facilmente fidelizar clientes serão aquelas que se destacarem pela flexibilidade, inovação e personalização. Não será apenas a quantidade de utilizadores a definir o sucesso, mas também a capacidade de uma plataforma construir com eles uma relação de longo prazo.

Vitor Dourado, Chief Investment Officer da Havas Media Network Portugal

Quinta-feira, 09 Janeiro 2025 08:31


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