Os dados como ativo da organização

Se os dados e o conhecimento daí gerados são um dos maiores ativos das organizações porque existem tantas dificuldades em definir um rumo no que toca ao analytics? Por um lado, o analytics não é o negócio core das grandes organizações em Portugal, por outro, a necessidade de analisar dados e factos no contexto de negócio tem vindo a ganhar cada vez mais relevância em todas as apresentações que passam pelas salas dos membros dos conselhos de administração. A dúvida surge diariamente: o que é uma implementação com êxito de uma política de analytics numa organização? Uma tecnologia? Uma equipa? Umas centenas de processos? Um projeto de datawarehousing?

 

Uma tecnologia não será de certeza, já que todos os dias surgem novas tecnologias que prometem implementar “Big Data”, “Machine Learning”, “Predictive Modelling” e outros jargões ligados à área da gestão da informação com uma rapidez e adaptabilidade que vão gerar mais rapidez, mais dinheiro, mais visão, mais estratégia de forma exponencial. O que raramente expõem é o argumento de que a mudança de um mindset baseado em opiniões para um baseado em factos demora uns largos anos e necessita de patrocínio de grande parte dos líderes dentro da organização.

Uma equipa, muito menos: podem contratar dez datas scientists/analysts/”ninjas de topo” que ,se ocuparem 90% do seu tempo a trabalhar em Excel e a tentar navegar no meio de dados completamente desorganizados e confusos, a evolução na organização situou-se apenas na folha salarial. Centenas de processos não será de certeza, já que causam burocracia. A multiplicação de tarefas e de pessoas a fazerem as mesmas coisas é o oposto daquilo que o analytics deveria trazer: maior agilidade, menor tempo na tomada de decisão e colocar a informação no tempo certo, na altura certa e no formato correto.

O sucesso da implementação de uma estratégia analítica prende-se com a mudança de mentalidades. Na organização, reconhecer que um computador consegue extrair factos que vão contra o conhecimento à priori. Na humildade de saber que as hipóteses e conclusões que tínhamos formulado enquanto organização podem estar erradas e não deixarmos que o “medo” de sermos ultrapassados pela capacidade de processar números de um computador seja um entrave à melhoria da análise e tratamento de dados.

É necessário saber que a curva de investimento em analytics não tem um break even imediato. Pouco importa a denominação do projeto se não existir vontade de integrar o conhecimento gerado no dia a dia da organização. De que serve desenvolver um modelo ensemble que mistura 20 técnicas preditivas por cima de uma complexidade de variáveis logarítmicas e exponenciais com todas as métricas de avaliação de modelos acima da média se, no final, não é acionável? Se não é implementado, melhorado e avaliado continuamente? Se a organização não acredita que isso pode trazer valor ao negócio?

A capacidade de gerir a informação gerada pelos stakeholders da organização é de facto capaz de minimizar custos, aumentar a produtividade dos recursos humanos e maximizar a eficiência das operações, mas não tem retorno imediato. É um investimento de longo prazo que requer paciência, perseverança e foco. Seis das dez organizações com maior capitalização bolsista têm como seu principal ativo a informação gerada acerca dos seus utilizadores e consumidores. Se os dados são a nova moeda da economia digital, existem medidas possíveis para estreitar o caminho para a riqueza ou as organizações que optem por não criar uma estratégia analítica irão acabar por se dissipar no próximo século?

 

Ivo Bernardo, cofundador e Head of Strategy da IMSHARE Conference

 

briefing@briefing.pt

 

Segunda-feira, 19 Novembro 2018 09:58


PUB