“Foi um parto um bocadinho difícil”, começou por dizer a chef sobre o desafio de assumir a responsabilidade por uma segunda cozinha, depois do restaurante Noélia & Jerónimo, em Cabanas de Tavira, onde ganhou notoriedade nos últimos anos. Admite que não foi fácil aceitar o convite do Real Hotels Group, dada a vida familiar, mas pesou a proximidade. “Há tanto tempo que andavam à procura de fazer algo comigo, que finalmente aceitei: perto de casa foi mais fácil”.
Casa é, desde sempre, a ria Formosa, que pudemos ver da esplanada. Nascida na serra algarvia, Noélia mudou-se aos cinco anos com os pais para Tavira e de lá não mais saiu. Hoje, é precisamente a ria que marca a sua cozinha. Fresca, com produtos da época. É uma cozinha simples, mas plena de sabor, que imprime uma abordagem inovadora às receitas tradicionais. São pratos que realçam os mariscos e os ingredientes frescos da região, vindos diretamente do mercado de Olhão. Como pudemos comprovar na canja de amêijoas com coentros, ou em entradas como o tártaro de atum e papadum, o croquete de pescada com caril e a tiborna de sardinha. Nos pratos principais brilharam os filetes de peixe aranha com xerém, a cataplana de amêijoas da ria formosa e o arroz crocante de polvo, lardo. Para terminar, nas sobremesas, as nossas papilas gustativas aplaudiram o bolo de amêndoa.
Ditada pela disponibilidade e frescura dos ingredientes, a ementa vai mudando diariamente, mas os arrozes, o xerém e as cataplanas são presenças habituais. Embora diferentes das propostas em Cabanas de Tavira, os pratos mantêm o cunho inconfundível da chef premiada como “Chef do Ano” em 2021. “As pessoas têm de perceber que sou eu que estou aqui. Não faria sentido apostar em pratos franceses, quando a minha origem é algarvia”. É, geralmente, nas entradas que consegue “dar a volta ao mundo”, observa. Dá como exemplo o croquete de pescada com caril – “ligam na perfeição”, assegura.
Localizado no hotel cinco estrelas Real Marina, o restaurante tem uma esplanada com 72 lugares e um interior com capacidade para 36 pessoas, decorado com elementos que evocam as tradições de Olhão. Entre os destaques estão os candeeiros feitos com Murejonas, técnica usada na pesca até aos anos 90, e exposições de artistas locais que celebram as paisagens e gentes algarvias. O espaço está aberto diariamente, das 12h30 às 16h30 e das 19h às 23h.
Sofia Dutra