Esta Drogaria é um restaurante. Que #ProvamosEAprovamos

Era uma vez uma drogaria. Que agora é um restaurante. E uma drogaria ao mesmo tempo, ou melhor, apenas no nome. Foi a vontade de Paulo Aguiar, que assim pretendeu homenagear a Lisboa antiga. Para completar a homenagem, foi buscar o chef David Casaca para dar sabores portugueses ao que sai da cozinha. E que, diga-se já, (a)provámos.

 

Não foi por acaso que Paulo escolheu aquele lugar na Lapa. Foi no bairro que passou a sua infância e conhecia bem o sr. Albino, da drogaria. Também acompanhou a sua transformação num armazém de antiguidades. Até que converteu o espaço num restaurante moderno e sofisticado. Diz que foi com orgulho que manteve alguns pormenores do traço do século passado, de modo a preservar a história do local e do próprio bairro. Mas acrescentou-lhe cores elegantes e espelhos que conferem uma sensação de amplitude.

Esta não é a sua primeira experiência na restauração. Mas em Lisboa sim. Voltou ao seu bairro para partilhar a paixão pela gastronomia. Fá-lo com David Casaca, cujas raízes se dividem entre a capital e o Alentejo. No currículo, levou para a Drogaria passagens pelos restaurantes Bica do Sapato, Assinatura e Tágide e pelo Ritz Four Seasons Varanda.

A cozinha tradicional é o que o inspira, mas com um toque de contemporaneidade, que mistura influências várias. Isso ficou bem visível – ou melhor, foi bem saboreado – no primeiro prato que nos chegou à mesa. Guiozas. Nada portuguesas, dirão. Há que fechar os olhos e fazer como que uma prova cega, para se ser surpreendido pelo genuíno sabor a cozido à portuguesa. Está lá tudo.

Este comentário pode ser aplicado a qualquer um dos outros pratos que degustámos. Ovos com ervilhas e chouriço? Sim, mas o ovo é a baixa temperatura, as ervilhas são em puré e o chouriço é uma farofa.

E o bacalhau à Brás? Mais português não podia ser, só que à maneira do Drogaria leva puré de azeitona bical. As bochechas de porco são tão alentejanas como o pai do chef, mas passam a fronteira até ao Algarve, porque acompanham com xerém de berbigão.

Há sobremesas, claro. Aí é dar largas à gula, porque escolher é uma tarefa para heróis: entre a tarte de framboesa, com merengue queimado, a mousse de chocolate negro e a pera com champanhe e açafrão houve que provar de tudo. A escala de sabores é desafiante, mais poderosa na mousse e mais elegante na pera, com a tarte a equilibrar.

Vale a pena entrar nesta Drogaria. Se bem que, com as atuais restrições, tenha sido necessário fazer ajustes que fizeram entrar em cena o take-away. Quase como na loja do sr. Albino, onde era tudo para levar…

fs@briefing.pt

 

Sexta-feira, 13 Novembro 2020 12:52


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