Fast Fashion? Uber demodé!…

 Fast Fashion? Uber demodé!…Comprar está-nos no sangue e as marcas tudo têm feito para que pensemos exactamente assim, que comprar faz parte de nós, que comprar é bom. Até pode ser. Especialmente se, ao comprarmos, estivermos a fazer crescer projectos nacionais e a emagrecer as contas multi-milionárias de uma certa indústria do fast-fashion.

Ao longo dos últimos anos, tenho estado atenta a ideias e marcas que resultam tanto de uma certa necessidade de dar a volta à crise, da criatividade ou da vontade de fazer diferente, que não cessa de nos surpreender. Num namoro constante com blogs e bloggers, estas marcas têm recebido alguma atenção mediática a ponto das mais interessantes terem já pontos de venda ou distribuição em lojas multi-marca. A Maria Guedes (Stylista) tem acolhido muitas destas marcas, dando-lhes visibilidade no Summer Market Stylista, ponto de encontro entre marcas com vocação online e consumidores que precisam de tocar para ter a certeza de que querem comprar. Este market e estas marcas ultrapassam claramente o tópico #fashion ou #fashionable, entrando num outro contexto, mais complexo e amplo, dos hobbies que se transformam em negócios, dos sonhos que se tornam realidade, das ideias que se concretizam, das pessoas que conseguem mexer um velho e teimoso país que, um dia, decidiu ficar parado. Por isso, só por isso, estas marcas só podem ser super cool.

Há outros mercados, com maior periodicidade, no Príncipe Real ou no LX Factory, por exemplo, onde também podemos encontrar novidades. Acima de tudo, variedade, apontamentos que fazem a diferença. A nostalgia está instalada e prova que o regresso às origens, mais do que uma mudança de mentalidades, é também uma moda. Manufactura, originalidade e criatividade juntas para criar peças únicas. A convergência está à vista: aquilo que alguns faziam para si passaram a fazer para si e para os outros, transformando esse DIY numa forma de vida e acrescentando uma nova vertente à moda com designers e transformadores (os que alteram peças de roupa) a ganharem espaço entre as grandes marcas. Ainda estamos a falar de negócios de nicho, embora de nichos cada vez maiores, com mais buzz em torno da sua marca porque esta, corresponde a outra manifestação, especialmente apreciada pela geração Z: a autenticidade. São artesãos e não corporações que estão no centro da conversação e, mesmo quando falham na comunicação com os seus seguidores, falham de forma real, por excesso de solicitações, ingenuidade ou inexperiência.

Porque quem cria não é necessariamente especialista em marketing e comunicação e, quando nascem, estas marcas não têm como investir num branding portentoso ou numa eficaz gestão de marca. E, por isso, também começam a aparecer freelancers e pequenas empresas que se dedicam exactamente a este nicho. O nicho de negócio dentro do nicho maior do consumo. Estes artesãos e marcas vendem muitas vezes na rua, essa mesma rua que é cada vez mais a fonte de influências várias, para quem anda na rua ou para quem sai à rua procurando inspiração para colecções que se espalham por todo o mundo e nos fazem parecer cada vez mais iguais. Aqui. Ali. Em todo o lado. É a globalização, dizem. Mas é também a glocalização ou, melhor, a geolocalização que no permite saber aqui e agora, quem comprou o quê e onde. São eventos no Facebook que anunciam um novo mercado, as páginas de marcas que usam o Facebook para dar um empurrão à sua visibilidade e se cruzam com consumidores desconhecidos que, rapidamente, passam a fiéis seguidores, acompanhando a marca – melhor, o artesão, o criador, a pessoa que produz – no Instagram. No Pinterest e nos blogues que abordam estas (pequenas) novidades em pé de igualdade com as colecções de marcas instaladas.

Marcas essas que vendem menos – e não é por culpa destas marcas novas – mas porque a economia desacelerou e a sociedade vive na incerteza, retraindo-se perante o que já conhece, abrindo os braços ao que é novo. Contra-senso? Não. Porque o novo é único, produzido localmente, apela ao nosso altruísmo enquanto consumidores e é comentado pelos nossos amigos nos sites de redes sociais. Em alguns casos, chega mesmo a deslumbrar pela qualidade, originalidade e baixo preço. Compramos porque nos identificamos. Compramos porque queremos ajudar quem teve a ideia e iniciativa de avançar. Promovemos porque queremos fazer parte de um grupo de novos consumidores que não rejeitam produtos massificado mas estão atentos às novidades. Que já embarcaram num consumo consciente, e querem inovar. Partilhamos porque queremos que nos reconheçam como os que sabem sempre o que está a dar, como se o que “está a dar” não resultasse do que outros dizem que vai ser a the next big thing. Nem todos podemos ser hunter, mas muitos de nós acham-se grandes setters. Trendsetters. Über cool. É o que todos queremos. Marcas incluídas.

Quinta-feira, 18 Junho 2015 10:39


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