A nova carta do restaurante entregue ao chef Fábio Alves foi o pretexto para esta segunda subida. A vista sobre a cidade é postal que baste, mas, quer na sala, quer no terraço panorâmico, Lisboa combina bem com sabores portugueses e vinhos de cepa igualmente nacional.
A portugalidade é, na verdade, um dos traços distintivos que o chef se propõe imprimir à carta, independentemente da época do ano. Nascido em Valpaços, é apreciador de sabores fortes. Diz mesmo que, por ele, tudo levava enchidos. Não sendo possível, tentar manter essa intensidade nos pratos que idealiza. Mas, tempos mais quentes pedem sabores mais frescos e foi esse equilíbrio que procurou transpor para as novas propostas. Não admira, pois, que os cítricos deem um ar da sua graça, das entradas às sobremesas.
Esta prova começou com uma versão salgada da torta de Azeitão, recheada de queijo da serra, com tapenade de azeite e um toque de gel de laranja do Algarve. Seguiram-se atum fumado, com maracujá e alho fermentado, e vieira e lagostim. Sabores frescos, como prometido.
Entrando nos principais, chegou à mesa robalo com puré de abóbora, gel de laranja, jus de fígados e azeite trufado.
Cedeu o lugar aos sabores mais intensos que fazem o deleite do chef: presa 100% bolota, com puré de batata doce roxa, jus à bulhão pato e gel de laranja – a fazer a ponte entre os dois pratos.
E como uma refeição não fica completa sem sobremesa, o espírito inventivo de Fábio Alves deu forma a uma falsa lima, com ananás dos Açores e coco.
Criar é precisamente o que o entusiasma, ao ponto de conceber a carta quase como um laboratório. Daí que admita trocar de duas em duas semanas ou mesmo todas as semanas, renovando pratos na totalidade ou apenas alterando as guarnições.
Gosta de surpreender os convivas, daí que o menu do chef, de cinco momentos, seja mesmo uma surpresa: como uma prova cega. Com a certeza, porém, de que haverá muitos sabores e muitas texturas.
Afinal, foi o que aconteceu connosco e valeu a pena.