Nos clássicos, mexe-se pouco. #ProvamosEAprovamos o (renovado) Café de São Bento

Quem chega ao 212 da Rua de São Bento tem de tocar à campainha para entrar. E ao transpor a cortina de veludo que dá acesso à sala talvez note pequenas diferenças.

Nos clássicos, mexe-se pouco. #ProvamosEAprovamos o (renovado) Café de São Bento

Pequenas, mesmo, porque a remodelação que assinalou os 40 anos do Café de São Bento respeitou a identidade deste clássico de Lisboa. O que não mudou, e continua com a qualidade de sempre, foi o bife.

Foi em 1982 que abriu esta casa que se afirmou com o epíteto de “o melhor bife de Lisboa”. A ideia original era resgatar a receita do cozinheiro italiano Antonio Marrare que, nos finais do século XVIII, trocou Nápoles por Lisboa e trouxe o bife com o seu nome. Era pojadouro a carne que se servia, mas os fundadores do Café de S. Bento quiseram elevar o corte e trocaram por lombo e vazia.

Quarenta anos volvidos, esta história conhece novo episódio, com a entrada em cena de Miguel Garcia. Muitas vezes tocou a campainha e transpôs a cortina do 212, como cliente, mas, a dada altura, a vontade de deixar a carreira corporativa na hotelaria levou-o a encetar conversações com os sócios do Café. Bem-sucedidas.

A sua intenção sempre foi manter o classicismo, mas sentiu necessidade de fazer uma remodelação que valorizasse o espaço. “Não queria mudar a cara, nem um aspeto moderno. Queria que continuasse intemporal no ambiente, no que serve, nas pessoas”, comenta, afirmando que a vontade dos antigos sócios era precisamente essa, encontrar quem desse continuidade ao seu legado. “É a minha missão”, afirma Miguel Garcia.

E o que fez foi apenas recuperar materiais, nomeadamente os tecidos, cuidar das madeiras. Para se conhecer a mudança mais visível é preciso subir as escadas que conduzem ao segundo piso. Para quem regressa ao Café é notório que esta já não é uma sala secundária: agora, há uma homogeneidade no ambiente.

A par do ambiente, a qualidade e a consistência perpassam para o serviço – alguns dos membros da equipa estão há mais de 35 anos no restaurante – e para a carta. Aqui, o bife continua a ser o ator principal.

E quando o assunto é bife, a receita “à marrare” é rainha, com a carne imersa num molho de natas cremoso, perfeito para mergulhar as batatas fritas estaladiças que vêm a acompanhar. Um esparregado sedoso de espinafres completa a trilogia. Mas, quem dispensar o molho, tem como alternativa o clássico bife à portuguesa –  frito, com alho e louro. E quem preferir uma versão mais simples pode optar pelo grelhado.

Tão clássicos como o bife são as entradas de foie gras, com chutney de maçã, pera e tomate, e pão torrado, e de camarões al ajillo. A que se juntam algumas novidades como bife tártaro e carpaccio de novilho e de salmão. E nos principais há outro tradicional – bacalhau gratinado. Já nas sobremesas, a que marca mais pontos é a tarte tatin de maçã, servida quente com gelado de baunilha.

No dia em que #ProvamosEAprovamos as receitas do Café de São Bento foram acompanhadas de um tinto reserva produzido especialmente para o 40.º aniversário. Uma boa escolha!

Miguel Garcia tem planos. Ainda este ano, abrirá um segundo espaço em Lisboa. Cascais ou o Estoril deverão ser contemplados em breve. E o mesmo acontecerá no Porto. É um processo em curso, para identificar os espaços ideais para recriar o ambiente da Rua de São Bento. Onde tocar à campainha continue a transportar para o passado, com as madeiras, os veludos, o latão, os espelhos oxidados, as luzes suaves. A cidade pode mudar, a identidade não.

Fátima de Sousa

 

 

Sexta-feira, 08 Setembro 2023 09:24


PUB