“O piso térreo mantém-se com o balcão e a esplanada; em cima, a cozinha é um pouco mais técnica e conceptual. O First Floor vai viajar entre Portugal e vários países, fazendo muitas rotas marítimas que estarão divididas por temporadas”, começa por dizer Manuel Barreto, chef executivo do grupo QriarFood – que detém também o restaurante O Frade e O Frade Mercado Time Out.
Não se sabe quantas temporadas serão e quanto tempo durará cada uma delas. “Queremos ter liberdade, não gostamos dessa rigidez, porque também depende da sazonalidade dos produtos”, defende.
Inspirado pelas expedições marítimas, o restaurante faz a primeira viagem pela antiga história das transações comerciais entre Portugal e o Japão, que começou com um desvio de uma embarcação chinesa onde tripulavam três portugueses. O desvio foi feito por um pirata japonês, que apelidou os portugueses de “Nanban” – palavra usada na altura para designar os povos do sudeste asiático.
“Começámos pelo Japão, por afinidade minha e do chef Gonçalo, que está ao leme do restaurante. Temos uma série de produtos, técnicas e influências que nos levam até lá, mas sempre com uma base portuguesa e uma identidade muito própria”, explica o chef Manuel Barreto.
Em termos de oferta, o espaço tem carta fixa, menu de almoço – composto por três etapas – e menu de degustação ao jantar – com sete momentos. Esta última é a proposta que, segundo os chefs, leva as pessoas a saírem mais ricas do Guelra First Floor e aquela em que se entregam às mãos do chef Gonçalo Gonçalves.
Da nossa rota, destaca-se primeiramente: a panqueca feita ao estilo japonês, com carabineiro, molho bisque e caviar; o sashimi de lírio braseado, com molho de miso, folha de shiso, raspa de lima, e vinagrete de espinhas de peixe e especiarias; e o pão de massa mãe e a broa de milho, que acompanham com azeite e biqueirão. As conservas desidratadas ou curadas, que muito se usavam nas viagens marítimas e que agora fazem parte da gastronomia portuguesa, estão também representadas.
É impossível não se falar do ramen de lula, e da raia grelhada com cogumelos shitake e topinambur negro. “O ramen foi o mais bonito de se fazer, porque cresci com cultura pop japonesa e é um prato que gosto muito. A base é a massa e o caldo, mas eu queria desfigurá-lo e fazer um twist. Então, lembrei-me de fazer uns noodles de lula e trabalhámos só proteína, vegetais e marisco, que são a base deste ramen”, revela o chef Gonçalo Gonçalves.
Também a raia, que é um peixe desconsiderado, todavia muito versátil, tem a sua história. “Eu sou neto de marinheiro, e raia e peixe-espada eram os peixes que mais comia em casa do meu avô. A raia é super desvalorizada, raramente aparece num contexto mais fine dining e não devemos descartá-la por não ser luxuosa”, conta o chef, afirmando que quer valorizar o produto pelo produto e não pela reputação.
Nesta jornada gastronómica, os vinhos não são esquecidos. Para o pairing, há apenas vinhos nacionais das várias regiões do País.
Agora, é só pedir o passaporte à chegada. Bem-vindos a bordo!
Carolina Neves