Manuel Barreto é o maestro deste espaço onde tudo, da cozinha à decoração, evoca o mar e as artes de bem marear. Ou de bem cozinhar peixe, nas suas diferentes versões, sempre com a criatividade como fio condutor.
É Pedro Frade que faz as honras da casa, contando como este conceito foi alimentado numa viagem a Cádis, no sul de Espanha. E alimentado é a palavra certa, porquanto foram, como diz, “três ou quatro dias só a comer”, com paragem nuns 20 restaurantes. “Fomos percebendo o que queríamos fazer”, comenta.
E o que queriam era um restaurante de peixe e marisco, mas não uma marisqueira; servir bacalhau, mas não ser mais um numa zona tão turística como Belém. “Queríamos dar uma roupagem diferente”, resume.
Essa roupagem é dada por Manuel Barreto, a bordo desde o início. “Tive a sorte de entrar ainda em projeto e de ter voz. Entre o conceito e a gastronomia, ficou coeso”, partilha o chef. Desse conceito faz parte aproveitar o peixe na íntegra, utilizando partes que são consideradas menos convencionais. “Do oceano para a mesa” é o lema.
Tudo é proposto numa carta inspirada no papel de jornal que, em tempos, servia para embrulhar o peixe nos mercados. De uma forma criativa, propõe-se uma viagem por sabores do mar.
Nas entradas, além do Bacalhau3, provado ainda ao balcão, pontua a tostada de camarão, o mesmo é dizer tortilhas crocantes, romesco e ponzu. Para partilhar, não faltam ideias, do camarão panado às puntinillas (choco, tinta de choco e lima), das algas da horta (tempura de alga e húmus) aos bikinis (muxama de atum), passando por tártaro de atum ou carpaccio de bacalhau.
Os pratos principais são um convite a falar com os colaboradores de sala. Porque os nomes não dizem tudo, apenas indiciam que há três níveis de preço – “O que vem à rede é peixe”, “Pela guelra” e “Do oceano para a mesa”. No dia da visita, por exemplo, a rede trouxe corvina, que foi servida com puré de aipo, ervilha torta e demi glace de peixe. Já o segundo momento foi composto por pregado, com puré de topinambur, molho de espumante e cogumelos salteados, enquanto o último nesta escala foi puré de amêndoas com lagostim grelhado e bisque.
As sobremesas, essas, não vieram do oceano: tarte de queijo do Guelra e creme de arroz doce. Voltando ao início, no balcão, as boas vindas foram dadas com um dos cocktails da casa, o Guelra sour, um mix de vodca, limão e maçã.
São sete os lugares este balcão, a lembrar um pouco os navios de cruzeiro. Ao lado, as escadas conduzem a uma sala com 32 lugares, em azul e branco, com motivos marinhos e um suave efeito de ondas nas paredes a envolver todo o ambiente. Há ainda 38 lugares na esplanada.
Decididamente, cumpre-se o propósito dos irmãos Frade e do chef Manuel Barreto: não ser mais um restaurante de peixe, mas, sim, um restaurante onde o peixe é servido “fora da caixa”. Com muita Guelra.
Fátima de Sousa