O plant-based veio para ficar

A visão da secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição, Helena Real.

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) define uma dieta sustentável como tendo um baixo impacto ambiental, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional da população, assim como para o seu estado de saúde, tanto no presente como no futuro. As dietas sustentáveis protegem e respeitam a biodiversidade e o ecossistema; e permitem otimizar os recursos naturais e humanos. Além disso, uma dieta sustentável é culturalmente aceite, nutricionalmente adequada, acessível pela população, segura e economicamente justa. Aparentemente, não é fácil conjugar todos estes elementos no momento da escolha dos alimentos para compor a nossa alimentação diária, mas é um desafio imperioso e possível de alcançar, pelo que deve ser incentivado junto da população. Em 2019, foi criada uma Comissão da Lancet, que apresentou aquilo que seriam as orientações para a chamada Dieta Planetária, abordando o modelo alimentar a seguir, de forma a preservar o nosso planeta, nomeadamente ao nível da emissão de gases com efeito de estufa. Este modelo em muito se assemelhava ao conhecido padrão alimentar mediterrânico, constituído essencialmente por alimentos de origem vegetal (produtos hortícolas, fruta, leguminosas, cereais, frutos oleaginosos, azeite, ervas aromáticas) e uma pequena parte a ser ocupada pelos alimentos de origem animal (carnes, pescado, ovos, laticínios).

Neste contexto, em que se exacerba a necessidade de sermos mais sustentáveis, proliferam consumidores mais conscientes e mais preocupados, sobretudo com o impacto ambiental das suas escolhas alimentares (sendo aparentemente menos sensíveis às componentes social e económica da sustentabilidade alimentar). Desta forma, as tendências alimentares revelam surgir cada vez mais produtos de origem vegetal, diversificando as escolhas alimentares. Muitas destas opções apresentam-se, inclusivamente, como alternativas vegetais aos produtos de origem animal, pairando na sua sombra e não realçando as suas características individuais, que poderiam ser destacadas. Acredito que este “movimento” plant-based veio para ficar, mais por necessidade do que por moda, embora entenda que será um setor que ainda sofrerá muitas reformulações e mudanças ao longo dos tempos, uma vez que muitos destes alimentos se apresentam embalados, com necessidade de rede de frio, com ingredientes de diferentes partes do mundo e, por vezes, com excesso de sal, por exemplo, o que lhes retira grande parte da vantagem ganha em matéria de sustentabilidade.

Retomo à Dieta Mediterrânica, para destacar a sua simplicidade nas escolhas alimentares, na sua culinária, no uso de produtos frescos, de proximidade, da época, provenientes de uma produção sustentável, ou seja, um conjunto de fatores que facilmente nos posicionam numa vertente de escolhas sustentáveis. 2023 é o ano em que a distinção da Dieta Mediterrânica pela UNESCO, enquanto Património Cultural Imaterial da Humanidade, em Portugal, faz dez anos, pelo que será importante preservarmos, promovermos e seguirmos este modelo plant-based, enquanto consumidores, mas também em setores como a indústria, a distribuição, o turismo, a hotelaria, entre outros.

 

Quarta-feira, 14 Junho 2023 10:17


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