Isabel Barros: Do reconhecimento europeu à sustentabilidade corporativa

A administradora executiva e responsável pelo pelouro da Sustentabilidade da MC, Isabel Barros, é a única portuguesa na lista das 100 Chief Sustainability Officers mais influentes da Europa. Em declarações à Briefing, a profissional considera que, mais do que um reconhecimento individual, “este é um testemunho do compromisso e dedicação de todas as equipas”. Além disso, explica que, apesar de o seu percurso profissional não ter começado na área da sustentabilidade, esta sempre foi uma preocupação no seu trabalho.

Isabel Barros: Do reconhecimento europeu à sustentabilidade corporativa

A responsável pelos pelouros de People, Sustentabilidade e Transformação da MC, Isabel Barros, integra a lista que apresenta os 100 Chief Sustainability Officers (CSO) que mais se destacaram em 2024. Na sua opinião, este reconhecimento reflete a capacidade da empresa de integrar a sustentabilidade na sua proposta de valor e nas operações, tal como diz à Briefing. Admite que esta nomeação é também uma prova de que o trabalho desenvolvido em Portugal “tem impacto e reconhecimento a nível global”. Acredita que este pode ser um incentivo para que mais profissionais e organizações assumam um papel ativo na sustentabilidade, “não apenas como um imperativo ético, mas como um fator crítico para a resiliência e competitividade dos negócios no longo prazo”.

Apesar de a sua trajetória profissional não ter começado na área da sustentabilidade, Isabel Barros afirma que sempre acreditou que esta deve estar no centro da gestão empresarial. Diz ainda que desde o início da sua carreira, antes de assumir formalmente essa área, teve preocupações sociais e ambientais na gestão das equipas e do negócio. Foi ao trabalhar com pessoas que percebeu que a diversidade, a inclusão e o bem-estar dos colaboradores eram “fatores essenciais para a construção de organizações mais fortes e inovadoras”. Em 2019, esta área passou oficialmente a fazer parte da sua carreira, quando assumiu a liderança do Grupo Consultivo de Sustentabilidade das empresas Sonae, “um espaço estratégico de partilha e definição de políticas, objetivos e metas para toda a organização”. Explica que este papel lhe permitiu ter uma “visão transversal” sobre como a sustentabilidade pode ser integrada de “forma eficaz” nos diferentes negócios. Simultaneamente, assumiu a responsabilidade executiva desta área na MC, com o compromisso de garantir “um alinhamento estratégico e uma implementação prática” dos compromissos. Acredita que “o verdadeiro impacto acontece quando a sustentabilidade deixa de ser um departamento isolado e passa a estar presente em todas as áreas da empresa”.

De acordo com a sua experiência, considera que as grandes empresas “têm um papel determinante na promoção de práticas sustentáveis, não só dentro da sua estrutura, mas em toda a cadeia de valor”. A também vencedora do Global Leading Women Award 2014 deixa ainda a convicção de que as empresas que não integrarem critérios e princípios de sustentabilidade na sua gestão correm o risco de perder competitividade, quer pela pressão regulatória, quer pelas expectativas dos consumidores e investidores.

Relativamente ao trabalho desenvolvido pela MC, Isabel Barros declara que o objetivo da empresa de retalho alimentar é “construir um futuro que respeite as pessoas, as comunidades e o planeta”. Por essa razão, diz que há um comprometimento em democratizar, progressivamente, o acesso a “uma cesta mais saudável e sustentável”. O Roadmap de Ação Climática, que orienta o trabalho desenvolvido, inclui medidas de ecoeficiência, eletrificação dos consumos, alteração das centrais de frio e investimento em energias renováveis. “Em 2024 conseguimos reduzir as emissões em 43 %, face a 2018, e 13 %, face a 2023”, revela. Entre outras metas e ações para as atingir, encontram-se: a redução do desperdício alimentar em 50 % até 2028, em relação a 2020; a alteração das embalagens para garantir que são recicláveis ou reutilizáveis; a colaboração com os produtores para reduzir a pegada dos produtos; envolver os consumidores, “facilitando escolhas informadas”; entre outras. Estes desígnios vêm no seguimento da convicção que a “sustentabilidade não pode ser um elemento separado da estratégia de crescimento de uma organização”. A profissional defende também que o equilíbrio entre crescimento e responsabilidade ambiental e social passa por: identificar os aspetos materiais mais relevantes, alinhar investimentos com objetivos sustentáveis e trabalhar de forma colaborativa com todos os stakeholders.

Quando desafiada a aconselhar outras organizações que desejam fortalecer a sua agenda sustentável, declara que o primeiro passo é “integrar a sustentabilidade no coração do negócio, em vez de a tratar como uma iniciativa paralela”. “É fundamental definir prioridades claras, medir os impactos e alinhar a estratégia de forma consistente e realista”, diz. Na sua opinião, outro segredo para o sucesso é a colaboração, sendo que “nenhuma empresa pode fazer esta jornada sozinha”.

No que diz respeito à evolução da sustentabilidade corporativa em Portugal nos próximos anos, pensa que o setor empresarial português está cada vez mais consciente da sua importância e que há “uma crescente mobilização” para transformar intenções em ações concretas. Apesar disso, crê que há “um longo caminho” a percorrer, mas a regulação europeia, a pressão dos consumidores e o compromisso de muitas empresas são fatores que impulsionam essa mudança. “O desafio agora é acelerar a implementação de medidas eficazes e garantir que a sustentabilidade se torne um pilar central da estratégia empresarial no País”.

Para concluir, a também presidente do GRACE – Empresas Responsáveis declara que as funções que desempenha desde 2013 lhe têm permitido perceber que, através do trabalho em rede, é possível “amplificar o impacto das ações e acelerar a transformação necessária para um modelo económico mais sustentável e inclusivo”.

Simão Raposo

Quarta-feira, 23 Abril 2025 10:25


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