Educar para a proteção da água é a missão da Blue Design Alliance

Sensibilizar e educar para a proteção da água, dos rios e oceanos é a missão da Blue Design Alliance (BDA). O consórcio é constituído por quatro instituições de ensino superior, que vão dar cursos profissionais e de pós-graduação, sobre a água e através de ferramentas do design thinking. Em entrevista ao 2050.Briefing, o gestor do programa, José António Simões, explica que o mesmo se centra na produção de conhecimento, investigação e formação de competências ligadas à economia azul.

2050.Briefing | O que motivou a criação de um programa de formação dedicado à água?

José António Simões | O programa de formação dedicado à água foi criado aquando de uma manifestação de interesse no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência 2022-2026 para o ensino superior. Esse momento era uma oportunidade para a ESAD alargar a sua oferta formativa porque permitiria ter recursos financeiros para a implementar e desenvolver.

Nesse sentido, fez-se o convite a diversas instituições de ensino superior, que eram estratégicas para desenvolver o programa, e foi com naturalidade que se criou a aliança designada de BDA, constituída por: ESAD, Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e e Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESB.UCP) – sediadas no litoral norte e interior do norte de Portugal.

A opção de apresentar um programa de formação dedicado à água era parte de uma estratégica centrada no cluster da água e dos oceanos, para responder ao desafio das Nações Unidas (ONU) e contribuir para concretizar a década da utilização eficiente e sustentável da água e do mar – tarefa que envolve sensibilização, alfabetização e mobilização em torno do tema do mar (ONU-Água 2030). Esta aliança, num quadro nacional claro, insere-se no contexto da estratégia global de desenvolvimento da região Norte e da respetiva Estratégia Regional para a Especialização Inteligente – Norte 2030, especialmente nas áreas temáticas da criatividade, moda e habitats, e recursos e economia do mar. Tem também como referência a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030, com o objetivo de aumentar a educação, formação, cultura e alfabetização oceânica (OE8) através do reforço da formação e cooperação universitária, politécnica e profissional, nacional e internacional, que resultam em técnicos com diferentes perfis de especialização para as “profissões azuis”. Considera também o Plano Nacional da Água e a relevância do Cluster do Mar Português.

Qual a importância de estudar este recurso?

A água é um recurso natural cada vez mais limitado e imprescindível para a sobrevivência do planeta. Estudar a água é uma necessidade para responder a diversas preocupações emergentes, vincadamente explicitas na agenda da ONU para o desenvolvimento sustentável e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030. Neste sentido, para os promotores do programa, considera-se crucial posicionar o mesmo perante os importantes e urgentes desafios nos domínios ambiental, social, cultural, económico e tecnológico, entre outros, que estão atualmente relacionados com a economia do mar e da água.

São vários tipos de cursos. O que os distingue entre eles?

O que distingue os cursos, além das diferentes propostas formativas, é a tipologia de estudante, daí as designações de Impulso Jovem STEAM e Impulso Adultos. Os cursos de formação propostos tiveram em consideração, necessariamente, um alinhamento objetivo com os documentos nacionais e internacionais de intervenção estratégica na área do mar e da água.

No que se refere ao programa Impulso Jovem STEAM, a BDA propõe um programa de três Cursos de Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP): Design de Comunicação para a Produção Alimentar, Design de Comunicação e Interfaces para a Economia Azul, e Design Náutico, Frente Marítima e Fluvial. A abordagem pedagógica partirá da experiência dos laboratórios nos domínios STEAM, que implica o desenvolvimento de laboratórios especializados orientados para experiências específicas em função do tema central da formação. Nos diferentes laboratórios, serão realizadas experiências capazes de enquadrarem as aprendizagens mais concetuais e apoiarem o desenvolvimento do trabalho de projeto onde serão aplicadas ferramentas de Design Thinking.

No âmbito do programa Impulso Adultos, as formações propostas são: um curso de pós-graduação em Design Circular e Sustentável de Água, com nove áreas de especialização; e 65 cursos de curta duração, incluindo microcredenciais.

Além destas formações, a BDA, no âmbito do que se designou de “Water Design Views”, tem como objetivo apresentar palestras e desenvolver workshops com especialistas de renome nacional e internacional, ao longo dos quatro anos de vigência do programa.

As instituições estão próximas do Oceano Atlântico e do rio Douro. Isto significa que haverá alguma componente prática?

Sem dúvida que a proximidade das quatro instituições de ensino superior ao Oceano Atlântico e ao rio Douro constitui uma inegável mais-valia, propiciando aos estudantes um ambiente natural de trabalho ligado à água. A componente prática é essencial na formação dos estudantes, mas a mesma não advém apenas da proximidade dessas instituições ao Oceano Atlântico e ao rio Douro. A forma como os currículos foram pensados e concebidos, essencialmente centrados no estudante e favorecendo metodologias ativas onde o projeto tem um papel central, propiciam que a oferta formativa decorra num ambiente imersivo e prático, onde os estudantes vivenciam uma experiência educacional ao longo de todo o ciclo de ensino, investigação e inovação. Desde a formação STEAM, passando pela exploração de novas questões científicas até à prova dos modelos resultantes, a componente prática e o desenvolvimento de tecnologias emergentes e promissoras, baseadas em novos conceitos e com aplicação inovadora nas áreas da água e dos oceanos, terão certamente um papel relevante.

No final das formações, o que é que os alunos terão de ter retido?

Um dos grandes argumentos da BDA é a reunião de entidades distintas que reconhecem a atualidade, relevância e importância estratégica da água e do mar no contexto regional e são capazes de identificar as oportunidades que uma abordagem de conceção transdisciplinar pode trazer na ótica de um desenvolvimento sustentável, para um ambiente e economia azul. Além das instituições de ensino superior, a BDA integra um vasto conjunto de parceiros, centros de investigação de referência, instituições e empresas – públicas e privadas –, cuja gestão, conceção, produção, investigação e atividades de formação são fundamentais para o desenvolvimento do programa proposto.

No que se refere ao programa Impulso Adultos, os estudantes, mais do que reter conhecimentos, desenvolverão competências específicas em áreas de design, marketing e gestão de recursos hídricos; cultura e literacia da água; logística, transporte marítimo e construção naval; e saúde e bem-estar, nas vertentes de turismo, desporto e biotecnologia.

Relativamente ao programa Impulso Jovem STEAM, estes terão de ter retido conhecimento e desenvolvidas competências ao nível operacional em processos de design de comunicação para diversificadas áreas da economia azul, incluindo a referente à produção alimentar, e em processos de desenvolvimento de produto e equipamento relativamente ao náutico e às frentes marítimas e fluviais.

Os alunos, através de processos de codesign, e design participativo e inclusivo, são chamados a desempenhar um papel cada vez mais importante em projetos futuros para o desenvolvimento de uma vida sustentável, melhorando a experiência da qualidade de vida e conduzindo projetos experimentais e de investigação, que permitam a implementação e transferência de ideias, e o desenvolvimento de produtos inovadores e boas práticas no âmbito da temática da água.

Segunda-feira, 10 Outubro 2022 08:55


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