Um estudo recente da Deloitte, denominado “The Turning Point”, conclui que a descarbonização global, que permita não exceder um aumento de 1,5 graus na temperatura média do globo (algo, muito provavelmente, já não alcançável), permitirá à economia global obter um crescimento valorizado em 43 biliões de dólares até 2070, contra um prejuízo de 173 biliões se não conseguirmos aquele desiderato. Portugal, Espanha e Itália serão, na Europa, quem mais sofrerá.
As evidências demonstram não estarmos a fazer o suficiente. Tivemos em janeiro o oitavo mês seguido com a temperatura média global mais quente, desde que existem registos. Em 2023, nos Estados Unidos da América (de acordo com a NOAA), foi novamente batido o record de número de eventos climáticos geradores de prejuízos económicos superiores a mil milhões de USD, desde que se iniciou esta contagem em 1980: 28 eventos, contra uma média anual de 22 nos últimos 3 anos e 20,4 nos últimos 5 (se recuarmos aos anos 80, verificamos que a média foi, então, de 8,5 eventos por ano…). Não precisamos de muitos mais dados para demonstrar o caminho que levamos…
Num esforço que se pretende global, Portugal (embora represente menos de 1% do CO2 gerado globalmente) assumiu o seu compromisso na transição energética, rumo à pretendida neutralidade carbónica. Longe de ser tão ambicioso como outros países europeus, estabelecemos 2050 como meta. Nos últimos anos, o país tem implementado diversas medidas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover uma transição energética, que se quer justa e eficiente. Esses esforços abrangem áreas que vão do incremento assinalável da produção de energia renovável à gestão sustentável dos recursos naturais, passando pelo incentivo à mobilidade elétrica (com o que isso implica em termos de redes de abastecimento).
Uma das estratégias eleitas por Portugal tem sido o investimento em fontes produtoras de energia renovável, com destaque para a energia solar e eólica. A produção de eletricidade a partir destas fontes tem aumentado consideravelmente, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e diminuindo as emissões associadas. Além disso, políticas de eficiência energética têm sido implementadas em vários setores, incluindo edifícios e indústrias, visando a otimização do consumo.
A gestão florestal e a preservação dos ecossistemas desempenham também um papel crucial neste caminho. Prevenir incêndios florestais (ameaça persistente) é fundamental e, apesar de esforços nesta área, é sentimento coletivo que podemos fazer muito mais pelo ordenamento do nosso território, reflorestação e promoção de práticas agrícolas sustentáveis, práticas essenciais a uma captura mais eficiente de carbono.
No âmbito legislativo, Portugal tem adotado medidas ambiciosas para fomentar a sustentabilidade. A Estratégia Nacional para o Hidrogénio é exemplo disso, visando a produção e utilização de hidrogênio verde como uma alternativa limpa. Além disso, políticas para promover a economia circular e reduzir o desperdício têm sido concebidas (ainda que com um caminho longo pela frente para a sua concretização ótima), abordando questões relacionadas com a produção e o consumo responsáveis (também essenciais no caminho para a neutralidade carbónica).
A participação da sociedade civil é vital neste processo, devendo destacar-se o papel das empresas, responsáveis por colocarem à disposição dos seus clientes produtos produzidos de forma mais sustentável.
No entanto, muitos desafios persistem. A transição para a neutralidade carbónica exige investimentos substanciais, cooperação internacional (que teima em tardar) e mudanças profundas nos sistemas existentes. A Europa tenta liderar o processo, quer pela imposição interna, quer através da tentativa de influência externa. Entretanto, Portugal vai fazendo o seu caminho e cumprindo com a sua parte, não se podendo esquecer, contudo, da necessidade de se preparar para o pior cenário das alterações climáticas, algo que, infelizmente, penso, não estarmos a fazer devidamente.
Afonso Arnaldo, Partner Sustentabilidade e Clima da Deloitte