Durante a COP28 no Dubai, em dezembro de 2023, o Diretor Regional da OMS para a Europa deixou claro que “as alterações climáticas estão a causar sofrimento, morte e destruição – uma ação climática concertada é a nossa única esperança de sobrevivência”. Apostar na descarbonização tornou-se um imperativo, como ouvimos quase diariamente em diversos fóruns. Mas como garantir um efetivo compromisso neste processo de transição energética que envolve uma mudança estrutural em termos de geração de energia que permita reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, ao mesmo tempo que se alteram comportamentos individuais e coletivos que comecem por reduzir as necessidades de consumo em si? Pessoalmente, acredito que a resposta está nas pessoas e na forma como estas se interrelacionam; porque no final do dia, as decisões são tomadas por pessoas com potencial de impacto variável, seja ele positivo ou negativo.
A sensibilização e a consequente compreensão dos efeitos das alterações climáticas na saúde parecem determinantes para a mudança de comportamentos. Se recorrermos às teorias sobre mudança de comportamento, encontramos a “awareness”, ou a falta dela, como um primeiro estádio num longo processo. Já em 2021, um estudo do Pew Research Center concluía que, em resposta às alterações climáticas, os cidadãos das economias avançadas estavam dispostos a alterar, pelo menos em parte, a forma como vivem e trabalham para combater os efeitos do aquecimento global, embora não lhes fosse claro se os seus esforços teriam impacto. Por outro lado, a descarbonização depende muito das empresas e da vontade política. Apesar dos desafios em termos de investimento necessário e as imposições trazidas pelo crescente quadro legislativo, as empresas veem na descarbonização oportunidades de redução de custos e benefícios económicos, reputacionais e competitivos, proliferando estudos e roadmaps nesta matéria.
Mas sabemos que intenção não se reflete necessariamente em comportamento. Ao processo de consciencialização, junta-se a vontade e o compromisso, determinantes para termos sede de conhecimento e novas competências que nos permitam pôr em prática determinadas medidas – de natureza mais ou menos técnica – neste processo de descarbonização. Neste sentido, uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), reconhecida como crucial para todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apresenta-se como um motor fundamental para um futuro mais sustentável, justo e inclusivo. A EDS está diretamente ligada ao ODS4, através da sua Meta 4.7, que exige “até 2030 garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive por meio da educação para o desenvolvimento e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de género, promoção de uma cultura de paz, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável”. As instituições dos vários níveis de ensino são, assim, chamadas a contribuir para esta missão.
Em particular, o ODS 13 compromete-nos a todos a tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos. A integração desta temática no ensino procura assegurar, ao nível cognitivo, a compreensão das causas, dos efeitos e das soluções das alterações climáticas, desde o efeito de estufa natural até ao aquecimento global induzido pelo homem, desde os impactos no ambiente e na sociedade até às ações para reduzir as emissões e adaptar-se às alterações. Mas ao mesmo tempo que é preciso saber identificar e quantificar os principais focos de emissões poluentes que ocorrem na sua cadeia de valor de uma empresa no âmbito de uma análise emissões de scope 3, por exemplo, – é igualmente crítico trabalhar a dimensão socio-emocional da aprendizagem, garantindo a perceção das interconexões entre os ecossistemas, as alterações climáticas e a sociedade humana, destacando o papel crítico de cada um na mudança de comportamentos coletivos. Na dimensão comportamental importa ainda reforçar o contributo pessoal e profissional para a proteção do clima, bem como a iniciativa de apoiar e defender a justiça e a solidariedade climáticas a diferentes níveis. Para além das questões mais formais e técnicas, a introdução de dinâmicas como o Climate Fresk ou The Carbon Literacy Project, ferramentas de aprendizagem das ciências climáticas que consistem em workshops interativos, são determinantes para trabalhar as várias dimensões.
As instituições de ensino, especialmente a academia que atinge um público com capacidade de influenciar mudanças rápidas, devem trabalhar com o seu ecossistema – formado por empresas, governos e organizações de todos os setores – para criar soluções que envolvam as pessoas numa aprendizagem ativa ao longo da vida, abrangendo as dimensões cognitivas, socio-emocionais e comportamentais, pois a resposta está nas pessoas.
Ana Simaens, Associate Dean for Engagement and Impact da ISCTE Business School