“Desde que se espalhou pelo planeta, a nossa espécie tem sido causadora de muitas extinções de espécies, com consequências graves para os ecossistemas de que faziam parte. Mas durante as últimas décadas os nossos impactos negativos nos ecossistemas agravaram-se de forma vertiginosa, criando uma situação de séria crise para a biodiversidade.
Os fatores que causam a extinção de espécies são variados, mas a raiz de quase todos eles é a mesma: a voracidade e irracionalidade com que a Humanidade está a explorar os recursos do planeta. O simples aumento da população mundial agrava o consumo de recursos, mas mais importante do que isso é hoje o crescimento do consumo de cada um, que está a criar uma situação insustentável.
A mais grave causa de extinção de espécies é a destruição e degradação de habitats naturais, por exemplo através da extração de madeira, drenagem de zonas húmidas, ou substituição por agricultura ou silvicultura. Grande parte desta destruição é irreversível, pois é feita de tal forma desastrosa que os solos se degradam de forma permanente. Muitas terras são por isso abandonadas, seguindo-se a destruição de novas áreas naturais para as substituir. A Humanidade precisa de ocupar espaço responder às suas necessidades, mas poderia fazê-lo com menos impacto utilizando estratégias de exploração e produção mais sustentáveis.
As consequências das alterações climáticas para a biodiversidade estão a agravar-se rapidamente, devido à continuada libertação de gazes com efeito de estufa para a atmosfera, principalmente resultado do crescimento do consumo de combustíveis fósseis. Cada ecossistema está associado a um clima específico e quando o clima muda tende a desequilibrar-se. Alguns ecossistemas podem resistir, ou até “migrar” para áreas com clima adequado, mas este processo está muito dificultado pela ocupação da maior parte do Planeta pelos Humanos e devido à rapidez das alterações climáticas. Assim, alguns ecossistemas vão recuar, degradar-se, ou mesmo desaparecer, levando à extinção de espécies que deles dependem.
Muito importante também é o papel da introdução de espécies invasoras em regiões fora da sua distribuição natural, que podem desequilibrar de forma dramática os ecossistemas. Algumas destas espécies propagam-se com tanto sucesso que impedem o desenvolvimento das espécies nativas, podendo levar algumas à extinção. É o caso das acácias invasoras que cobrem hoje grandes áreas em Portugal. A introdução de predadores, terrestres ou aquáticos, foi já responsável pela extinção de grande parte da fauna de muitos rios e ilhas em todo o Planeta. Outro problema da introdução de espécies é que estas são muitas vezes portadoras de doenças às quais as espécies nativas não têm resistência, sendo para elas letais.
A sobre-exploração de recursos naturais vivos é também uma ameaça grave para a biodiversidade. É o caso da pesca que, quando praticada de forma insustentável, capturando mais peixes do que a natureza consegue repor. Adicionalmente, algumas práticas de pesca causam enormes mortalidades em espécies que não são consumidas e destroem ecossistemas marinhos, com impactos que vão muito além dos observados nas espécies comerciais. Também a caça, quando praticada de forma insustentável ou é dirigida a espécies ameaçadas, causa muitas extinções.
Finalmente, é importante referir a poluição, cujos efeitos sobre a biodiversidade são talvez mais sentidos em meios aquáticos, como nos rios e mares. A poluição química foi até recentemente considerada a mais preocupante, mas os efeitos da poluição por plásticos, especialmente quando se fragmentam em partículas muito pequenas conhecidas como microplásticos, poderá até ser mais grave.
Alguns destes problemas são de solução difícil, mas as estratégias para os minimizar são já conhecidas. Tem faltado aos governos vontade para as implementar, à escala necessária para interromper de forma marcada a tendência de perda de biodiversidade. Há que alterar esta situação, ou não só vamos ficar com um mundo mais pobre, sem muitas das maravilhosas formas de vida que a evolução criou ao longos de muitos milhões de anos, mas também sem os importantes serviços que a biodiversidade nos presta, diminuindo a qualidade de vida da humanidade.”