Para o também diretor-geral da IP Telecom, a maioria das PME (e não só) já terá feito diversos investimentos que se revelaram “curtos” nas eficiências esperadas, ou trouxeram exaustão de equipas por “graves falhas de usabilidade das aplicações e necessidade impreterível” de garantir registos informáticos manuais de diversas atividades dos processos existentes.
Considera, portanto, existir por vezes uma ambiguidade de sentimentos quando se fala com líderes empresariais sobre transformação digital. “Entendem-na como um mal necessário, que ajudou claramente em muitas situações na fase pandémica vivida, mas que na realidade ficou-se muito pela sistematização processual e operacional de tarefas existentes, através de simples uso da tecnologia”, diz.
Acredita que esta é a realidade vivida em muitas implementações de digitalização e não de transformação digital, “como julgavam que estavam a fazer”. Porque acontece? “Simplesmente porque as empresas têm muita falta de momentos de paragem para pensar, estudar, pedir ajuda, partilhar experiências, testar, errar e aprender”, advogada.
Defende, pois, que muitos erros são cometidos pela “falta de humildade” em partilhar experiências e erros. “Transformação digital não é um fim, mas um meio para preparar a empresa para um patamar de criação da sua futura sustentabilidade”, afirma, sustentando que transformação digital “nunca pode ser encarada como um comprimido para as dores de cabeça, mas como um processo educativo, tal qual fazemos com os nossos filhos, entendendo a sua maturidade e crescendo em conjunto com o conhecimento e experiências efetivas”.
Do ponto de vista prático, uma PME tem de assumir se pretende, ou não, estar presente no mercado em dez ou 20 anos, independentemente de situações de potenciais aquisições. Para almejar esta longevidade, preconiza como fundamental que a PME assuma a sua reanálise estratégica interna, onde “o papel digital terá obrigatoriamente um sentido essencial de médio e longo prazo”.
“O querer ter o ‘servidor na empresa, pois os dados são meus’, como ouvi recentemente de um dono de uma empresa fabril portuguesa, é sinónimo de que não entende o potencial da tecnologia. Como referi, é assumir a tecnologia como um mal necessário e não como um parceiro estratégico de futuro”, adianta.
A dúvida é sempre, por onde começar? Qual o caminho? Até porque há muitos possíveis. Na sua visão, o primeiro passo é entender a transformação digital de uma empresa como um realinhamento estratégico das suas missão e visão, suportado e acelerado tecnologicamente por aumentos de eficiência e eficácia do seu ecossistema (colaboradores, clientes, parceiros, fornecedores, entre outros), medindo a efetividade do que está a ser realizado ao longo do tempo. “O primeiro passo é discutir precisamente os caminhos, avaliá-los e segui-los”, sugere.
“Transformação digital não é tecnologia, mas gestão estratégica”, reforça, salientando que a tecnologia vem apenas após as pessoas e os processos da empresa, ou seja, após o realinhamento da estratégia, “que já não é a do século passado, mas a do século XXI”. “A atual gestão de empresas é muito diferente e muito mais complexa. É este o enquadramento que fará a diferença de uma empresa ainda existir daqui a cinco, dez ou 20 anos. Qual é o objetivo para a sua? Pense nisso, mas rápido, pois não há muito tempo”, desafia.