O seu fundador, Yvon Chouinard, terá dito que “um regresso a uma vida mais simples não é um passo atrás”. Resta saber quantos passos na direção certa teremos dado para chegar (bem) a 2050. Na minha opinião, iremos chegar longe, com um planeta mais vivo e uma sociedade mais próspera se:
- Resolvermos as ‘crises gémeas’, a climática e a ecológica. Temos de ligar os objetivos das COP Biodiversidade e COP Clima: é virtualmente impossível resolver problemas complexos sem compreender a sua real dimensão e interligação. A gestão de ecossistemas emerge como a possível grande “nature-based solutions” para os mega “human-made-problems”;
- Reformarmos a economia no sentido de criar/recuperar/transformar empresas e empregos através da bioeconomia circular. Existe um potencial enorme na valorização do capital natural, quer marinho como terrestre, para vias tão diversas como os bio-based products para transformar e fazer o ‘green detox’ nos sistemas agrícolas, assim como na área das novel foods, cosmética e wellness e, claro, novos biocompostos para a indústria farmacêutica e espacial (‘ground control to Major Tom’);
- Promovermos a descentralização política, social e económica dos territórios do interior de Portugal continental e ilhas, pois se há algo que as crises sanitárias, humanitárias e financeiras recorrentes que caracterizaram os ‘loucos anos 20’ do século 21 mostraram é que vão ser necessários novos e reais incentivos à descentralização para promover territórios com excelentes condições potenciais, valiosos em capital natural, mas que se arrastam penosamente num limbo por ainda acreditarem numa economia do século 20;
- Apostarmos no real valor natural na economia: chega de olhar para o investimento em ambiente e Natureza como custos só porque somos demasiado limitados a fazer contas, faz zero sentido assumir que ‘é só despesa’ colocar dinheiro em restauro de ecossistemas, recuperação da biodiversidade, de estruturas ecológicas ou conversão de áreas florestais e agrícolas estoiradíssimas por más práticas de gestão e escolhas discutíveis (das quais nunca deduzimos os custos ambientais reais). Os (bons) analistas sabem que existe uma grave falha técnica na maioria dos instrumentos de análise económica e financeira. Somos os nossos maiores inimigos se continuarmos a valorar em zero (ou abaixo disso) todos os bens e serviços que os ecossistemas nos dão ‘de borla’, pois isso só irá acelerar e agravar o colapso ecológico e a desregulação climática.
Como alegadamente terá sido dito por Bill Gates, há tanto ou mais dinheiro a ganhar a restaurar e recuperar o planeta como a consumir até ao limite aquilo que ainda temos; é mesmo tudo uma questão de escola política, social e ética. Duvido que Bill Gates ainda esteja por cá em 2050, mas espero que esta ideia se tenha tornado ética presente para todos os que aí chegarem.