2050.Briefing | A sustentabilidade do turismo é um caminho incontornável? Quais os principais desafios nesta rota e quais as prioridades do Turismo de Portugal em termos de sustentabilidade?
Luís Araújo | O Turismo de Portugal assume a sustentabilidade como um propósito maior, como o único caminho possível para construir o turismo do futuro, mais responsável. Todos os projetos e iniciativas que concretizamos procuram, em última análise, promover os princípios da sustentabilidade junto de toda a cadeia de valor do turismo nacional. Isto implica, por um lado, a compreensão dos verdadeiros impactes ambientais, sociais e económicos da atividade turística e, por outro lado, a dinamização de todo o seu potencial no quadro global da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Aliás, a Estratégia Turismo 2027, referencial estratégico do desenvolvimento do setor para os próximos anos, definiu de forma muito clara metas de sustentabilidade económica, social e ambiental e áreas estratégicas de intervenção, sem perder de vista os objetivos concretos de aumentar a procura e as receitas turísticas, de reforçar as qualificações, de reduzir o índice de sazonalidade, de assegurar uma integração positiva do turismo nas populações residentes, de incrementar os níveis de eficiência energética e hídrica nas empresas e de promover uma gestão eficiente dos resíduos na atividade turística.
Foi com este enquadramento que o Turismo de Portugal lançou, em 2021, o Plano Turismo +Sustentável 20-23 que procura acelerar o alcance dessas metas e, ainda, reforçar a contribuição do turismo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Este plano criou mais de 100 ações, a implementar até 2023, dirigidas para a estruturação de uma oferta crescentemente sustentável, para a qualificação dos agentes do setor, para a promoção de Portugal como destino sustentável e para a monitorização do desempenho do setor em sustentabilidade.
Estrategicamente, foram definidas metas de curto/médio prazo, mas sabemos que alcançar o desenvolvimento sustentável do setor exige um nível de ambição contínuo. Por não ser um conceito passageiro ou conjuntural, antes impondo um ciclo contínuo de melhoria, a sustentabilidade determina que reconheçamos a importância de não colocarmos limites para o que podemos fazer. Se queremos que o turismo seja um setor líder na resposta aos desafios da sustentabilidade temos de incluir os seus princípios e diretrizes nos modelos de governação das organizações, procurando a melhoria contínua nos serviços e nos produtos para conseguirmos garantir uma adaptação estrutural às realidades e aos desafios que surgem em cada momento. É aqui que entra a importância da medição objetiva do desempenho, porque o caminho para um turismo mais competitivo, mais justo e responsável e mais eficiente no uso dos recursos não pode existir sem indicadores que, acompanhando as exigências do mercado e as expetativas da sociedade, permitam analisar ineficiências e vulnerabilidades e desenvolver mecanismos de crescimento.
Foi por essa razão que o Plano “Reativar o Turismo | Construir o Futuro”, aprovado em maio de 2021, inscreveu o Programa Empresas Turismo 360° no conjunto de ações orientadas para projetar o setor no futuro – uma iniciativa ambiciosa que procura aproveitar toda a força transformadora do setor ao incentivar as empresas a reportarem o seu desempenho em sustentabilidade através da integração dos fatores ESG – Environmental, Social and Governance na cultura organizacional e na estratégia de negócio, orientando-as no processo de reporte de um sistema de indicadores criado com o objetivo de refletir as suas práticas ambientais, sociais e de governação. Não é possível operacionalizar a sustentabilidade sem garantir uma monitorização e uma disponibilização de dados de desempenho, pelo que o Programa Empresas Turismo 360° surge como um mecanismo que, resultando de uma reflexão estratégica orientada para a compatibilização do desenvolvimento económico com a proteção ambiental e com a equidade social, permite abordar vulnerabilidades, antecipar e contornar disrupções, e maximizar oportunidades e benefícios para os destinos, para as empresas, para as comunidades, para os trabalhadores e para os visitantes. Ao permitir uma padronização no processo de recolha e de processamento dos dados de desempenho do setor, o Programa permitirá medir e percecionar as diferentes variáveis que podem condicionar os objetivos de transição e, ao mesmo tempo, criar uma base de conhecimento útil para os processos de tomada de decisão adotados por agentes públicos e privados e para a compreensão dos fatores determinantes da competitividade de Portugal enquanto destino turístico.
De que forma pode o turismo estimular ações mais sustentáveis?
O empenho do Turismo de Portugal neste objetivo concretiza-se, também, em outras iniciativas nacionais e internacionais que concorrem para objetivos de sustentabilidade. O Turismo de Portugal aderiu ao Global Sustainable Tourism Council (GSTC) e ao Pacto Português para os Plásticos, mantendo uma participação ativa no World Travel & Tourism Council (WTTC) e na European Travel Comission (ETC). Em fevereiro deste ano, passou também a fazer parte da Organização Internacional de Turismo Social (ISTO), uma organização internacional, sem fins lucrativos, que promove o turismo acessível e responsável reunindo stakeholders dos setores do turismo social, sustentável e solidário de todo o mundo.
De destacar, ainda, o próprio Plano de Ação Reativar o Turismo | Construir o Futuro que, sempre norteado pelos aspetos ligados aos vários domínios da sustentabilidade, tem como objetivo incentivar a retoma do setor. O plano pretende assim ser um guião orientador para todo o setor turístico (público e privado), cujas ações estão totalmente integradas com os objetivos do Plano de Recuperação e Resiliência e da Estratégia Portugal 2030, assegurando-se assim uma estratégia concertada para a retoma da economia nacional.
Uma componente essencial neste caminho de mudança é a educação e a formação e, nesse sentido, as Escolas do Turismo de Portugal dão um contributo relevante não só para a concretização de ações e projetos, mas também para a construção de uma consciência coletiva de que a sustentabilidade terá de ser uma atitude fundamental e um valor da nossa sociedade. Em concreto, as Escolas do Turismo de Portugal desenvolvem um conjunto de iniciativas, desde a criação de novos cursos e novas ações, à realização de projetos de intervenção ambiental e social e, mais recentemente, ao desenvolvimento de projetos de inovação e mentoria, que contribuem para a qualificação das pessoas e para a capacitação das empresas nas três dimensões da sustentabilidade. Atualmente, todos os alunos do Turismo de Portugal frequentem duas unidades curriculares específicas e três complementares da área da sustentabilidade. No ano de 2021, foram realizadas mais de 200 ações de formação especificamente nos domínios da sustentabilidade e foram realizados mais de 3.114 projetos de responsabilidade social e ambiental.
Tendo as pessoas como centro da estratégia, o Plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro está estruturado em quatro eixos de atuação – apoiar empresas, fomentar segurança, gerar negócio e construir futuro – sendo este último pilar aquele que, de forma mais explicita, visa encorajar e incentivar as empresas de turismo a incorporarem, em toda a sua atuação, os valores da sustentabilidade, nos seus pilares ambiental, social e de governação. O turismo do futuro tem de ser obrigatoriamente mais sustentável e responsável.
O que ambiciona o Turismo de Portugal em matéria de sustentabilidade? Porque é tão importante associar turismo e sustentabilidade?
Num esforço conjunto, envolvendo todos os protagonistas do setor, ambicionamos posicionar Portugal como um dos destinos mais competitivos e sustentáveis do mundo e fazer do turismo um hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território. Esta pode ser a oportunidade de elevarmos o turismo para um outro patamar de desenvolvimento. Mas é, sobretudo, uma oportunidade de, com isso, gerar efeitos multiplicadores na economia nacional e de a fazer crescer, de modo sustentável, para outros níveis de riqueza.
Num momento difícil, em que o mundo enfrenta questões de enorme gravidade e complexidade, tais como as alterações climáticas, a insegurança alimentar, doenças e pandemias, a diminuição da biodiversidade, a desigualdade económica e vários conflitos geográficos, é premente promover mudanças estruturais e tomar decisões que permitam à comunidade internacional obter soluções conjuntas para os problemas globais e locais.
As ações que o Instituto tem vindo a desenvolver e a apoiar no âmbito da sustentabilidade multiplicam-se. Recentemente foi signatário e parceiro da Declaração de Glasgow para a Ação Climática no Turismo, oficialmente lançada em novembro de 2021, na 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas – COP26.
Por outro lado, sem perder de vista o seu propósito maior de contribuir para um mundo mais sustentável, apoiou a iniciativa 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas. Adiada desde 2020, a conferência reuniu, em Lisboa, líderes mundiais, ONG e outros setores da sociedade civil, do mundo académico, do setor privado e filantropos, mobilizando a comunidade internacional em torno do ODS 14 da Agenda 2030 da ONU – Proteger a Vida Marinha. O turismo é o maior setor das indústrias baseadas no oceano, representando cerca de 40% do seu valor total de exportação.
O turismo desempenha um papel significativo no desenvolvimento económico das comunidades, gerando emprego, investimento e receitas. Paralelamente aos benefícios do desenvolvimento turístico, surgem importantes desafios como a perda de biodiversidade, poluição e consumo de recursos escassos. O reconhecimento nacional e internacional do papel central do turismo na economia abre oportunidades a projetos internacionais, que visem apoiar o relançamento do turismo com base nas metas definidas pelas políticas europeias e internacionais para a sustentabilidade.