15 minutos é muito tempo? 1000 metros é muito longe? As respostas a estas questões são fundamentais para a ideia de proximidade e mobilidade que devemos alcançar na cidade de 2050. Nas próximas décadas, a vida entre edifícios tem de assumir um papel relevante no desenho de soluções comprometidas com o futuro da vida coletiva. Trata-se de uma oportunidade de termos ruas mais verdes, deslocarmo-nos a pé ou de bicicleta, fazermos compras perto de casa, termos acesso a múltiplos serviços e ao mesmo tempo mudarmos o nosso estilo de vida. Todas estas dimensões são essenciais a um sustentado desenvolvimento económico, cultural, social e ambiental.
Carlos Moreno, professor na Universidade de Paris IAE – Pantheon Sorbonne e autor do conceito da cidade dos 15 minutos, desafia-nos, nos últimos anos, a recuperar os princípios da visão do urbanista sociólogo norte-americano de Clarence Perry de unidade de vizinhança. O conceito surge em 1923, como resposta à necessidade de uma nova configuração dos bairros. Como é o caso em Lisboa do Bairro de Alvalade, onde o caminhar de uma criança na rua assume um papel chave no posicionamento da escola, do parque de lazer, das lojas para promover o comércio local, fatores essenciais na qualidade de vida urbana.
Deste modo, a relação entre mobilidade pedonal e acessibilidade de proximidade, a serviços essenciais à vida cotidiana, é basilar na promoção de políticas públicas urbanas. Como arquiteta, o primeiro passo a dar, neste sentido, é implementar soluções de regeneração urbana centradas na diversidade humana. Este é o momento certo para reclamar a (re)humanização da cidade, onde os cidadãos, todos nós sem exceção, somos chamados a construir a transformação do nosso bairro.
A acessibilidade universal é fulcral no direito a viver na cidade. Para tal, é preciso um esforço coletivo de reflexão e ação para construirmos espaços de diversidade e pluralismo, integrados nas atividades da vida social urbana. Um exercício de cocriação, em que a cidade dos 15 minutos não é apenas mais uma palavra da moda na agenda política e mediática nacional e local.
Duas lições a reter, após dois anos de discussão do conceito cidade dos 15 minutos. A primeira é que o desenvolvimento das cidades não é apenas resultado de técnicas alternativas de planeamento decididas pelos governos locais, faz parte de um sistema holístico associado à participação ativa dos múltiplos atores urbanos na construção do comum. A última, é que para assegurar uma transição justa e inclusiva, é necessário que seja acompanhada de uma sensibilização e responsabilização de todos os que governam, desenham, ensinam e vivem nas cidades.