A Ethical Assembly chega a Portugal

Após várias edições reconhecidas a nível nacional e internacional, a Ethical Assembly chega ao Beato Innovation District, em Lisboa. A 2050.Briefing falou com a fundadora, Patricia Imbarus, que revelou que esta edição, que se realiza nos dias 2 e 3 de outubro, é a “maior de sempre”.

A Ethical Assembly chega a Portugal

2050.Briefing | O que a motivou a criar a Ethical Assembly?

Patricia Imbarus | Criei a Ethical Assembly, em 2019, para ajudar a enfrentar as crises mais urgentes do nosso tempo, através de um evento interseccional, colaborativo e focado em soluções. Desapontada com as conferências de sustentabilidade patrocinadas por grandes poluidores e dominadas por narrativas unilaterais, reconheci a necessidade de uma plataforma que democratizasse o acesso à conversa sobre o clima e promovesse genuinamente a mudança sistémica. Ao reunir diferentes intervenientes verdadeiramente empenhados em catalisar a mudança sistémica, a Ethical Assembly pretende inspirar uma ação coordenada e coletiva para um futuro justo, resiliente e sustentável para todos. O tempo está a esgotar-se e precisamos de todas as mãos à obra!

O que levou a escolher Portugal para esta edição?

Durante mais de uma década, Portugal e Lisboa têm sido mais do que uma casa para mim; têm sido uma fonte de inspiração constante. As distinções da cidade – como sua a nomeação como Capital da Inovação em 2023 e Capital Verde Europeia em 2020 – fazem ressaltar o seu papel de liderança na sustentabilidade e na mudança progressiva. O empenho de Portugal em promover energias renováveis, espaços verdes e transportes sustentáveis, para destacar alguns exemplos, demonstra a sua dedicação a criar um futuro mais verde. O vibrante ecossistema de inovação do País, que promove a colaboração entre startups, instituições de investigação e empresas, é um testemunho do seu espírito de vanguarda.

Acredito firmemente que Portugal tem potencial para se tornar um centro global líder em sustentabilidade e inovação, e estou entusiasmado com o facto de a Ethical Assembly poder contribuir para esta visão de uma forma significativa. No entanto, Portugal enfrenta também desafios climáticos alarmantes, tal como a subida das temperaturas, o aumento da frequência das ondas de calor, as secas, os incêndios florestais e a erosão costeira. Estes desafios ambientais exacerbam as desigualdades sociais, afetando desproporcionadamente as comunidades vulneráveis, como os agregados familiares com baixos rendimentos, as populações idosas e as zonas rurais dependentes da agricultura, o que realça a necessidade urgente de justiça climática e social. A resposta a estes desafios exige um esforço conjunto para garantir que as estratégias de adaptação e de atenuação sejam inclusivas e equitativas.

Quais os principais destaques desta edição?

A edição deste ano é a nossa maior de sempre, com 150 oradores e 70 sessões, e temos o objetivo de reunir mais de 1000 participantes. Também estamos entusiasmos com o facto de que existirão dois palcos paralelos, bem como outras áreas dedicadas a workshops, laboratórios, networking e mostras de arte.

Temos o prazer de ter connosco uma das mais importantes defensoras do clima a nível mundial, Lily Cole. É uma das modelos e atrizes mais icónicas do mundo, conhecida pelo seu papel na Guerra das Estrelas, mas é o seu empreendedorismo de impacto e a sua campanha a favor do clima que nos deixam maravilhados. Temos ainda Jeanne Zizi de Kroon, que é a força motriz por detrás da ZAZI, uma figura mundialmente reconhecida no espaço da moda ética e do património cultural. Há tantas iniciativas fantásticas e mal podemos esperar para as partilhar com toda a gente.

Este ano, vai ser igualmente interessante observar a introdução de um novo formato de cimeira, que vai para além da conferência climática de dois dias da Ethical Assembly. O nosso objetivo é fomentar o otimismo e a colaboração radical entre participantes, oradores e parceiros em torno de soluções inovadoras para a crise climática. Como tal, nos dias imediatamente a seguir à cimeira, organizámos uma agenda incrível de experiências comunitárias, visitas de estudo e laboratórios.

O que distingue este evento dos restantes sobre sustentabilidade?

A Ethical Assembly distingue-se de outras conferências climáticas ao integrar a justiça ecológica e a equidade social e ao reconhecer que a crise climática é um desafio profundo que se cruza com questões sociais de raça, género, classe, capacidade e outras. A verdadeira sustentabilidade significa abordar as desigualdades sistémicas e garantir que as comunidades marginalizadas, que muitas vezes são as que mais sofrem com os impactos climáticos, estão na vanguarda das soluções. Catalisamos alianças e parcerias poderosas, reunindo legisladores, empresas éticas, ONGs, start-ups, investidores, ativistas, criativos e cidadãos para promover soluções inovadoras e expandir o seu impacto. A nossa plataforma permite que diversas vozes partilhem ideias e colaborem em estratégias para um futuro justo e resiliente para todos. Somos independentes, focados em soluções e evitamos o greenwashing, tendo estabelecido um rigoroso processo de curadoria e seleção desde o início.

Ao contrário da maioria dos eventos que dependem de patrocínios de empresas e de modelos pay-to-play, não aceitamos o apoio das empresas em grande parte responsáveis pela crise climática. O nosso objetivo é manter a integridade da nossa agenda, democratizar o debate sobre o clima e proporcionar o acesso a grupos tradicionalmente sub-representados, como cientistas, investigadores, pequenas ONGs, ativistas e cidadãos Mas o que verdadeiramente distingue o nosso evento é o facto de ser um esforço verdadeiramente colaborativo, tornado possível por uma comunidade ousada que partilha os mesmos valores e visão.

Quais os principais desafios de organizar um evento zero waste?

A organização de um evento de baixo impacto traz consigo vários desafios. Por exemplo, pode ser difícil encontrar um local ou fornecedores com boas práticas de sustentabilidade. A separação adequada dos resíduos e a gestão da participação dos participantes exigem um planeamento, formação e controlo extensivos. As opções sustentáveis têm frequentemente custos mais elevados e a implementação destas práticas pode exigir um investimento inicial significativo. Além disso, coordenar todos os aspetos para que se alinhem com os princípios de desperdício zero exige uma organização meticulosa entre todos os intervenientes, monitorização contínua e recursos dedicados. Fatores imprevisíveis como o clima ou alterações de última hora podem complicar ainda mais os esforços. Apesar destes desafios, um planeamento cuidadoso e um compromisso podem reduzir significativamente o impacto ambiental do evento.

A comunidade do Beato Innovation District e da Factory Lisbon partilham a nossa visão e o nosso compromisso e têm sido muito flexíveis na nossa tentativa de conceber um evento de baixo impacto. Nos convites e materiais dá-se, tanto quanto possível, prioridade ao formato digital, para reduzir o desperdício de papel. Toda a comida é de origem vegetal, privilegiando produtos locais, orgânicos e sazonais; além disso, é servida em pratos e utensílios reutilizáveis ou compostáveis, e encorajamos ativamente os nossos participantes a trazerem os seus próprios artigos reutilizáveis de casa. Por último, estamos a trabalhar na instalação de estações de reabastecimento de água no local para eliminar a necessidade de água engarrafada.

Como pode esta iniciativa inspirar outros eventos no País?

A minha esperança é que a Ethical Assembly se possa tornar num farol de inspiração para outros eventos em Portugal, demonstrando o poder da integração da sustentabilidade e da justiça social nas suas missões principais, promovendo a colaboração entre diversos intervenientes e realçando a importância das práticas inclusivas. É importante pensar criticamente em cada decisão, desde a logística e produção até à agenda e patrocínios – quer se trate de festivais ou eventos do setor.

Simão Raposo

Quarta-feira, 07 Agosto 2024 09:17


PUB