2050.Briefing | O que se pretende com o protocolo assinado entre o ISEG e a CML?
Diogo Moura | Lisboa tem um compromisso forte e ambicioso para se tornar verde. O contexto de emergência climática que vivemos hoje justifica o nosso trabalho para que a sustentabilidade seja o eixo comum às políticas públicas para construir a cidade do futuro; para nos assumirmos como campeões na ação climática local; e para sermos exemplo na concretização de medidas e projetos mais abrangentes que acelerem a transição energética, a neutralidade carbónica, a expansão sustentável das energias renováveis, a adaptação climática, a proteção ambiental, a salvaguarda do capital natural e dos serviços dos ecossistemas, e a circularidade dos materiais. Só resulta se a sustentabilidade for transversal: desde uma consciencialização mais verde, ao projetar e redesenhar bairros, ao compromisso de reduzir as emissões de carbono da cidade em 85%, até 2030, ou ao Lisboa Solar – o grande programa da cidade para aproveitar o potencial solar, através da instalação de sistemas solares no topo dos edifícios municipais.
Por outro lado, acredito que este executivo tem uma visão diferente de pensar a cidade e uma vontade de pensar, em conjunto com os vários atores que são parte de Lisboa, a resposta aos desafios urbanos. Falamos muitas vezes dos processos de cocriação com a sociedade civil, e para desenhar e concretizar a estratégia pública para Lisboa, num processo colaborativo que defina, a partir da realidade de hoje, a cidade que queremos construir amanhã.
Queremos estimular o talento para concretizar esta estratégia verde para Lisboa e é neste âmbito que faz sentido estabelecer o protocolo com o ISEG.
Porquê o ISEG?
Queremos trabalhar em conjunto com o talento e o conhecimento que é criado na cidade, com todas as universidades e instituições de ensino superior. As universidades são atores essenciais para a resolução dos desafios urbanos, que possibilitam abordagens multidisciplinares e inovadoras com um conjunto mais alargado de outros atores.
O ISEG faz todo o sentido pela sua orientação clara e reconhecida para a formação e a investigação nas áreas da Economia e Gestão. Pode desempenhar um papel muito relevante no trabalho que Lisboa tem feito com as empresas na sensibilização e no fomento da sustentabilidade: na identificação de modelos de financiamento verde e de uma política fiscal com discriminação positiva para projetos sustentáveis, por exemplo. Queremos trabalhar em conjunto com quem sabe e investiga para apoiar, cada vez melhor, as empresas a darem os passos necessários nas suas estratégias de sustentabilidade.
Em que temas da dinâmica da sustentabilidade devem incidir os trabalhos e os eventos organizados pelo ISEG?
A sustentabilidade é hoje mais do que simplesmente verde. Falamos cada vez mais do impacto social das empresas e da governança corporativa associadas à sustentabilidade ambiental: os critérios ESG são, hoje, parte essencial no desenho da estratégia das empresas.
Com este protocolo, queremos trabalhar com os estudantes e perceber a sua visão sobre financiamento verde, obrigações verdes municipais, green venture capital ou empregos verdes, para contribuir para uma nova dinâmica mais sustentável de Lisboa.
Além do verde, queremos também explorar, por exemplo, a capacitação em gestão e inovação do nosso tecido empresarial, bem como formas de gerir negócios respeitando os direitos humanos, contribuindo para os ODS ou garantindo a responsabilidade ambiental.
Os trabalhos e as teses produzidos pelos alunos do ISEG podem vir a ser aplicados na prática em Lisboa ou serão usados apenas como estudo no contexto do município?
Queremos que este protocolo fomente, não só processos de cocriação, mas também de coexecução. Trabalhamos numa estratégia de diálogo e de construção de uma estratégia para a sustentabilidade em conjunto com todos, envolvendo aqui as universidades, as entidades científicas e as gerações mais jovens. Só é possível cumprir as metas muito ambiciosas a que Lisboa se propôs para a redução de emissões de dióxido de carbono, se pusermos em prática trabalhos como os que se pretendem estimular neste protocolo.
A nossa visão para Lisboa é a de um laboratório de inovação aberto. Queremos encontrar soluções inovadoras para os desafios identificados pelos parceiros e pelo próprio município, e testá-las em Lisboa, nas estruturas municipais, mas também como proposta para empresas e ONG da cidade. É esta a nossa visão para a construção da cidade de futuro.
Quais são os passos que considera que Lisboa deve dar para ser uma cidade mais sustentável?
A estratégia política ambiental para Lisboa tem necessariamente de ser transversal e concertada, chamando todos: cidadãos, empresas, universidades, escolas, ONG e outros stakeholders da sociedade civil para, em conjunto, nos comprometermos com uma cidade de futuro sustentável. Este futuro tem que começar necessariamente amanhã, para que os lisboetas consigam ver rapidamente este compromisso.
Este executivo apresentou já um conjunto de projetos estruturantes que tornam evidente a preocupação com a sustentabilidade e a sua transversalidade, em relação às várias áreas de atuação da política pública para a cidade. Projetos como o Lisboa Solar ou o Hub Azul e a estreita ligação à bioeconomia azul são exemplo disso. Estamos a trabalhar num conjunto de programas que fomentem a eficiência energética e que estimulem a mudança para comportamentos mais sustentáveis. Queremos reforçar a ligação às empresas, às universidades, às ONG e à sociedade civil em geral, para criar uma Plataforma Lisboa Sustentável que junte toda a cidade num compromisso conjunto com as metas para uma capital mais verde.
Não nos queremos ficar por aqui e são várias as áreas em que queremos trabalhar. Da educação à mobilidade, às finanças ou ao urbanismo, a sustentabilidade é um dos eixos que estruturam a nossa visão de cidade e aquilo que gostaríamos que fosse a marca de Carlos Moedas, a nossa marca em Lisboa.